quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Esclarecimento

Como eu falei no texto original e repeti várias vezes e muitos não viram, repito: NÃO defendo o Júlio. Foi um idiota! Não concordo com o que ele disse. Amo meu estado. Mas acho que a população exagerou e esqueceu de ver que ela também faz piadas com os outros. Só isso. Quanto à OAB está cumprindo seu papel. Mas acho que o povo deve pegar mais leve com ele. Linchamento moral e ameaça de morte não resolve nem mostra o povo que somos. Somos melhores que isso.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Xingou meu estado, vou processar

Quero falar sobre um assunto que está acontecendo atualmente e que, para mim, é bastante sintomático. Recentemente, um turista que veio conhecer a Paraíba falou mal, após ver um acidente de caminhão, dizendo que a Paraíba é uma merda e “não venham à Paraíba”. Segue o link do vídeo:

Julio Bambambam flagra acidente de caminhao ao vivo em Joao Pessoa

Foi uma piada engraçada? Não. Mas eu não consigo acreditar nas proporções que as coisas tomam. Ele vai ser processado! O que está acontecendo com o nosso mundo?

Primeiramente, eu disse que achava sintomático e explico o porquê. Para isso, vou usar uma metáfora. Se você chegar a Silvio Santos e disser “pobretão”, qual será a reação dele? Ele vai ignorar. Se você chegar para um cara pobre e disser a mesma coisa, o que ele vai fazer? Alguns vão ignorar, outros vão se ofender. Estes últimos são complexados por serem pobres.

Alguém xingou a Paraíba. E daí? Que autoestima baixa é essa dos meus conterrâneos paraibanos? Se vocês estão tão ofendidos assim, provavelmente, no fundo, acreditam um pouco que a Paraíba seja uma merda! Eu entendo que o paraibano tenha baixa autoestima. Somos alvo de zombaria de muitos lugares do Brasil. Desde os vizinhos do Recife, até os cariocas, paulistas e sulistas. Temos fama de pobres, analfabetos, imigrantes que poluem São Paulo, feios etc. Normal existir baixa autoestima. Mas ficar de coitadinhos, de “ai, doeu o que ele falou”, isso é opção nossa!

Eu não estou nem aí para o que esse cara falou. O que me incomoda mesmo é a reação dos meus conterrâneos. Estamos vivendo em um mundo em que a liberdade de expressão está sendo jogada no lixo. Ele foi inteligente no que falou? Foi gentil? Não! Acho ele um mané. Mas devemos processar? Por favor, gente, que povo mais sensivelzinho.

A liberdade de expressão está sendo podada por pura hipocrisia! Por exemplo, eu sou comediante, me divirto zoando pessoas de outros estados. Que moral eu tenho pra ficar putinho porque falaram mal da Paraíba? “Ah Alyson, mas eu não sou comediante”.

Ok, senhor não-comediante. Você de João Pessoa, quantas vezes não fez piadinhas entre amigos dizendo que Campina Grande é uma merda? Você de Campina, quantas vezes não zoou João Pessoa? Você de Cajazeiras, quantas piadas não fez de Nazarezinho? Você paraibano, quantas vezes não disse que carioca é um bando de maconheiro ou de ladrão? Você brasileiro, quantas vezes não disse que Português é burro e Argentino, filho da puta?

Coloque a mão na sua consciência e se sinta tão mané quanto este cara. Dá licença gente! Xingou a Paraíba? Ok, foda-se. É só mais um que faz isso e que é igualzinho à gente. Estou defendendo o cara? Não! Acho ele um babaca. E é por isso que temos que ficar acima disso.

Em tempo: o cara está sofrendo agora um linchamento moral. A população inteira atacando ele até ele apagar o facebook. Gente chamando de veado e dando o celular dele no twitter. Muita gente mesmo xingando. É assim, senhores paraibanos, que vocês querem provar que não são a merda que ele disse que são?

Em tempo 2: será possível que uma parte do que eu digo está sendo comentada e a outra não? Todos falam da liberdade de expressão. Dizem que vai até o momento em que agride alguém. Ora, agressão moral só o é se você considerar. Se alguém me chamar de filho da puta, tenho duas opções: 1 - ficar ofendido, irritado feito adolescente e reagir; 2 - ignorar, como um adulto, e ficar por cima.

Mas não é nem isso meu principal comentário. O que está estranho é que a maioria fala de liberdade de expressão e ignora (talvez deliberadamente) a parte em que eu digo que ele é igual à gente. Será possível que a hipocrisia é tanta, que a maioria está ignorando o comentário que eu fiz dizendo que aquilo que ele fez, todos nós fazemos toda hora? Há como negar? Quero ouvir comentários sobre isso. O que ele fez, eu não disse que foi certo. Mas ele escancarou o preconceito que todos vocês têm (nós temos), mas falam (falamos) a boca pequena.

Aí alguém me perguntou: se eu posso processar, por que não fazê-lo? Por uma questão de bom senso e honestidade comigo mesmo! Não é porque a lei permite, que eu sou obrigado a fazer.

Tiremos a trave dos nossos olhos antes de olhar o argueiro no olho do outro. Pois infelizmente, nosso lema tem sido: mexeu com os teus, eu rio. Mexeu com os meus, eu chio.



Este texto lembra a temática de um outro texto que já escrevi aqui. Segue o link: Politicamente correto.

Mais um ótimo texto sobre isso é o do meu amigo, mais novo integrante do CQC, Maurício Meirelles. Segue o link:

Pare de se levar tão a sério

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Se não explicamos, não é natural

“Meu pai estava mal, prestes a morrer e, de repente, algo aconteceu e ele ficou bom. Ao perguntar aos médicos, eles disseram que não tinham explicação para o fato. Disseram que a ciência não explicava o que aconteceu. Lógico que foi um milagre de Deus”.

Quantos há que nunca ouviram essa afirmação? Provavelmente todos já ouviram isso e, bem provavelmente, várias vezes na vida. Por outro lado, já ouvimos muitas vezes “esses cientistas ateus são egocêntricos. Acreditam que podem e sabem tudo com sua ciência”. Gostaria de analisar por um outro ângulo a visão do egocentrismo humano.

Qual o papel da ciência?

Precisamos, antes de tudo, entender como o cientista vê a sua ciência. Ela não é infalível, mas é o que o ser humano tem. O que quero dizer com isso? A ciência é uma maneira humana de descobrir o mundo e a nós mesmos. Nem tudo o que está no universo (e muito, muito longe de tudo) está contido na ciência. Porém, tudo o que o homem sabe está na ciência. Assim, confiar na ciência não é achar que podemos saber de tudo, mas saber que teremos acesso a tudo o que o homem descobriu até hoje.

E quando nos deparamos com o inexplicável?

No passado, nossos ancestrais afirmavam que os trovões eram o barulho dos deuses guerreando com seus raios mortais. Até que, um dia, a ciência descobriu como funcionavam os relâmpagos e os consequentes trovões. Alguém ainda acha que é a guerra dos deuses?

O problema (ou não) do ser humano, é que ele é inquieto. Sua inquietação tem um lado bom: ele nunca se satisfaz com o que sabe e quer sempre conhecer mais. Aprendemos sempre coisas novas e sempre estamos fazendo por onde viver melhor com o que sabemos. Mas também existe um lado ruim: quando nos deparamos com o desconhecido, nossa frustração é tanta, que nos recusamos a admitir que desconhecemos. É aí que entra o que eu considero o verdadeiro egocentrismo humano.

“Conhecemos toda a natureza”

Quando o homem se depara com algo que a ciência não explica, ele tem tendência imediata a negar que desconhece a origem do fato. Ele sabe a resposta: foi Deus, foi o sobrenatural, foram os orixás, foram os demônios, foi o espírito do meu pai etc. E a frase é bem recorrente: não há explicação científica, logo, é sobrenatural. Uma pessoa que acredita dessa forma tem muito mais fé na ciência do que qualquer bom cientista.

Qualquer cientista sabe que o que a ciência não explica pode vir um dia a ser explicado ou pode ser que permaneça para sempre desconhecido pelo homem. Mas isso não exclui a possibilidade de o fato ser natural. Quando, cientes de que ciência é conhecimento humano, pronunciamos a frase (ou alguma similar a) “Se a ciência não explica, é porque é sobrenatural”, estamos incorrendo na incrível arrogância de afirmar “tudo o que é natural o homem conhece. Se o homem não sabe, não é natural”. É quase como dizer que o homem conhece 100% da natureza.

O que é o inexplicável?

A ciência não explica tudo. Isso significa que há fenômenos que fogem ao natural? Não, significa que há fenômenos naturais que o homem desconhece e/ou não sabe explicar. A ciência, por mais evoluída que esteja, não dá conta de 1% do universo. Cientistas têm consciência disso. Religiosos que afirmam que o que o homem não explica é sobrenatural, não. Confiam demais na ciência.

Então como posso responder à questão que fiz no subtítulo “o que é o inexplicável”? Simples, eu não posso. Quando somos confrontados por algo que nós não explicamos, existem duas possibilidades: 1) você não sabe o que é aquilo, pode até achar que é sobrenatural, mas já existe algum cientista (ou até milhares) que saberão explicar direitinho o fenômeno; 2) nem você sabe, nem qualquer outra pessoa. Isso significa que o ser humano ainda não chegou a uma resposta (e pode nunca chegar).

Então, quando não sabemos explicar um fenômeno, não significa que ele é sobrenatural, significa que não sabemos explicar um fenômeno. Há coisas no mundo que são consideradas sobrenaturais e a ciência já explica como fenômenos naturais. Há coisas que a ciência ainda não explica ou talvez nunca venha a explicar. E quando alguém me pergunta “Se você não crê em sobrenatural, como você explica o fenômeno tal?”, minha resposta é simples: eu não explico.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Trollando um mendigo

- Senhor, me dê uma ajudinha... Deus vai te dar em dobro...
- Tem certeza de que Deus me dará em dobro?
- Vai sim senhor...
- Certo... vejamos... se eu te der 8 reais, quanto Deus vai me dar?
- Muito mais, seu dotô!
- Você me deu certeza de que ele me daria em dobro. Quanto vai ser?
- Sei não...
- Como o senhor me promete uma coisa que nem o senhor sabe? O senhor tem que saber defender a sua tese.
- Mas quem ajuda, Deus se lembra depois.
- E se Deus não existir?
- Ele existe!
- Ele é bom?
- É!
- Tá sendo bom com você?
- Não recramo de nada, seu dotô.
- Então se eu não lhe ajudar, o senhor não vai reclamar?
- Gente que não pensa nos outros... tem dinheiro aí e não dá uma ajudinha... é assim mesmo, é assim.... ta certo viu....
- Olha aí, já tá reclamando.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um debate ético 2

- O que você faria se seu filho dissesse "eu não amo você"?.
- Torturaria!
- Como é??! Você não entendeu o que eu disse!
- Entendi! Torturaria!
- E se esse filho fizesse bem a todos, fosse ótima pessoa, honesto, respeitável, bondoso, caridoso, mas apenas declarasse que não ama você?
- Torturaria pelo resto de sua vida.
- Que horror! Você é igual a Deus!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Outro?

1ª fase

Uma tribo vivia isolada no meio de uma selva. Eles não conheciam nenhum povo diferente deles. Não passava na cabeça deles que pudesse existir outras línguas, outros costumes, outras religiões. A palavra “outro” sequer existia em sua língua. Eles não davam nome à sua língua, pois não sabiam que poderia existir outra maneira da falar e pensar. Essa tribo não tinha nome. Não precisava, pois eles acreditavam que não existia outra tribo no mundo. Eles tinham certeza de que seu modo de viver era o único no mundo. Eram totalmente ignorantes sobre o mundo além do seu. Mas algo surpreendente aconteceu. Surgiram visitantes de outro lugar do planeta. Era muito estranho para eles ver gente que se vestia diferente, falava diferente.

2ª fase

Mas eles finalmente tinham conhecido algo diferente. No entanto, nada da cultura diferente era considerado plausível. Vou tomar como exemplo aqui e até o final da história a língua (assim como ocorreu com religião, costumes, tabus etc). Quando escutaram aquele povo visitante falar, não consideraram a hipótese de estarem falando outra língua. A única língua existente era a deles. Provavelmente, os visitantes eram tão burros, que não sabiam falar. Tentavam, faziam esforço, buscavam tirar sons garganta afora, mas só o que faziam eram ruídos. A tribo não considerava nem de longe a hipótese de haver outras formas de falar. Eles tinham certeza de que o povo visitante não falava, apenas grunhia.

3ª fase

Após analisarem por meses, começaram a aceitar a possibilidade de a língua dos visitantes ser uma língua de fato. Mas, mesmo assim, não poderia ser uma língua tão boa quanto a deles. Não dava para entender nada, era desconexa e os sons da língua eram feios. Eles perderam a certeza de falar a única língua do mundo, mas tinham certeza de falar a única língua boa, correta e lógica do mundo. Era inadmissível colocar aquela língua bizarra e ininteligível dos visitantes como correta. Com certeza, deveria ser rústica, mal estruturada e com uma gramática praticamente inexistente.

4ª fase

Alguns começaram a querer falar a língua dos visitantes. E surpresa! Descobriram que era um idioma bem estruturado e igualmente eficiente. No entanto, tinha termos inúteis, que falavam de coisas que não existiam. Eles tinham certeza de que palavras como “avião” ou “dinossauro” eram completamente inúteis, pois descreviam coisas imaginárias e sem razão de se imaginar.

5ª fase

Alguns resolveram conhecer o lugar de origem dos visitantes. Descobriram que as palavras desconhecidas não eram inúteis naquela terra. Começaram a ver claramente que cada aspecto da cultura do outro era pleno e útil, mesmo que não fosse na sua cultura de origem. E quanto mais suas mentes se abriam ao conhecimento, ao outro, quanto menos ignorância, mais certezas caíam por terra.

6ª fase

Alguns foram morar no país dos visitantes e fizeram uma descoberta aterradora. A língua dos visitantes não era somente tão eficiente quanto a deles, mas mais que isso: no outro país, era mais eficiente. Eles descobriram que a língua deles só era mais eficiente no seu lugar de origem. Que toda cultura que eles tinham seria considerada estranha em outro lugar. Eles agora é que eram os visitantes. E a única certeza que tinham era a de que, no seu país, as coisas funcionavam melhor.

7ª fase

Conheceram a fundo a língua e toda a cultura do outro. Decidiram não ter mais certezas, pois toda certeza que tinham se mostrava facilmente rebatida. E por melhor embasados que estivessem, sempre haveria algo no mundo que poderia questionar suas certezas. Menos ignorantes do que antes, conhecedores da palavra “opinião”, decidiram algo: manteremos algumas de nossas convicções e mudaremos outras. No entanto, não teremos mais certeza de nada, pois o meu ponto de vista nunca será perfeito e sempre estará sujeito a questionamento e a ser derrubado.

E então meu Brasil? Quando nós aqui sairemos da 2ª fase? (Se for ser generoso, talvez até dê para achar que uma parte do povo está beirando a 3ª fase... não muitos, não mais que isso). A língua foi só um exemplo. Neste texto se encaixam língua, variedade linguística, religião, orientação sexual, filiação política etc.