Anda circulando pelas redes sociais a seguinte imagem.
Isso me trouxe um grande susto.
Não estamos somente diante de uma oposição a um estilo de vida individual que
cabe unicamente a quem o vive e a quem o compartilha. Estamos diante de uma
incapacidade total de reflexão e de percepção do óbvio.
Porcas e parafusos foram criados
com uma única finalidade: a parte roliça e espiral deste penetrar a parte
aberta e espiral daquela. Se um parafuso se juntar a outro parafuso, não
servirá de nada para montar um móvel ou qualquer estrutura. Se uma porca se
juntar a outra porca, igualmente, não servirá de nada. Porcas e parafusos não
têm sentimentos e não servem para nada a não ser um se juntar ao outro, sem
nenhum desejo, sem nenhuma intenção, sem nenhum sentimento, para satisfazer única
e exclusivamente as necessidades de um ser que não eles mesmos (o ser humano).
Isso se parece em alguma coisa
com um relacionamento entre seres humanos? Já vejo muita diferença. Um
relacionamento entre porcas e parafusos só serve para uma coisa: montar
estruturas e satisfazer seres que não a própria porca e o próprio parafuso. É
verdade, uma porca só casa com um parafuso e vice-versa. Essas duas ferramentas
só servem para montar estruturas do jeito que outro ser, não eles, quer. Então, algo diferente disso, não casa.
Mas seres humanos não são
ferramentas para montar estruturas do jeito que outro ser humano quer.
Relacionamentos não são reduzidos a uma estrutura roliça penetrando em um buraco.
É tão óbvio, que me sinto frustrado de explicar a adultos o que deveria ser
explicado a crianças de cinco anos: relacionamentos humanos têm muito mais do
que o que a analogia das porcas e parafusos pretende. Assim, nem o termo casar tem o mesmo significado que teve quando o usei no final do parágrafo acima.
Alguém já ouviu falar numa porca
que sentiu tesão quando o parafuso a penetrou? Alguém já ouviu falar em um
parafuso que amou outros parafusos e, por isso, sofria preconceito dentro de
sua caixa de ferramentas? Se sim, por favor, me conte. Deve ser um relato
fascinante.
Relacionamentos humanos são
compostos por amor, carinho, cumplicidade, compreensão, respeito, admiração e, claro, em
muitos deles, sexo (é preciso dizer que porcas e parafusos não vivenciam isso?). Mas, diferentemente de ferramentas de carpinteiros, os
seres humanos têm gostos, preferências, desejos. Não existe um ser externo que pega o
homem, posiciona, levanta o seu pênis, coloca uma mulher em cima e martela até
que toda a vagina seja penetrada. Homens e mulheres gostam de uma coisa e não gostam
de outra e, assim, vão formando sua identidade sexual e escolhendo o que
penetra o quê ou SE, por acaso, algo vai penetrar algo (existem seres humanos
que gostam de sexo onde não existe qualquer penetração).
Diferentemente de porcas e
parafusos, um relacionamento interpessoal serve para algo além de uma coisa
penetrar na outra e possui muito mais coisa envolvida do que uma coisa
penetrando a outra. Diferentemente de porcas e parafusos, dois seres humanos
não se juntam para satisfazer os desejos e necessidades de outros seres que não
eles mesmos. Diferentemente de porcas e parafusos, um relacionamento não se torna inútil se uma coisa não penetrar na outra. Diferentemente de seres humanos, porcas e parafusos não criam falácias
infantis para defender um ponto de vista.