quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Seis não é meu assunto. Meia dúzia, sim.

Ontem algumas colegas, abismadas com a inaceitável frase “eu não acredito que haja um deus”, vieram tentar me convencer com os mais variados argumentos de que estou errado. Tentavam até mesmo me intimidar com os perigos da pesada mão de Deus sobre os ingratos. Outra colega me disse que aceitava que dissessem “não tenho religião”, mas “não creio em Deus” era difícil. Outras tentaram provar que creio em Deus, pelo fato de usar a expressão “meu Deus”. Outra disse que eu deveria pedir perdão a Deus. Não preciso nem falar na incapacidade das pessoas de aceitar a diferença. Mas isso já está batido... quero abordar outra coisa.

Essas colegas começaram a me pressionar para mostrar quão errado estou. Eu falei “gente, não estou querendo falar de religião agora”. E eis a resposta que tive: “eu não falo de religião. Só falo de Deus”. Essa expressão não é nada original na verdade. Os evangélicos são ensinados a usá-la para rebater o “não se fala em religião”. E os desavisados engolem esse sapo. Para mim, essa frase é tão absurda quanto “eu não falo de mecânica, falo de motores dois tempos com cárter molhado, virabrequins e suspensões”.

A frase “não falo em religião, falo em Deus” vai além de uma manipulação barata que os incultos engolem. Não é somente uma frase comicamente absurda, tão engraçada quanto a da mecânica. É uma mostra clara da intolerância e da incapacidade de perceber até onde seu discurso expressa uma ideia e não um fato. Ora, para começo de história, não é preciso acreditar em um deus para se ter religião. Os taoístas, alguns budistas e algumas culturas animistas possuem todo um conjunto de crenças, mas não acreditam na divindade. Isso significa que falar em um deus ou em deuses inclui certas religiões (cristianismo, hinduísmo, islamismo) e exclui outras.

Além disso, cada religião teísta enxerga seu deus de uma maneira diferente. No islã, Deus é uno e não se aproxima dos homens. No cristianismo, ele é triuno e uma de suas pessoas veio viver entre os homens. No catolicismo, especificamente, Deus conta com a ajuda de diversos santos intercessores (o cristianismo tem uma [bela?] nuance de politeísmo). No hinduísmo, o politeísmo é declarado, assim, não há um deus totalitário. Assim sendo, quando uma pessoa fala de Deus ou dos deuses, podemos, pela maneira de falar, saber ou, pelo menos, deduzir qual a sua religião.

Então essa frase mostra a arrogância implícita do pensamento “se eu creio assim é porque é assim. Quem crê diferentemente de mim está errado”. Todo conhecimento que temos, sistema de crenças, sentimentos etc. são baseados no contato que temos com o mundo. Este contato não é direto, mas mediado por sentidos e interpretado por uma série complexa de operações cognitivas. É impossível ter certeza de que aquilo que eu vejo corresponde bem ou mal à verdade. Não dá pra dizer se alguém vê o azul de maneira tão correta quanto eu. Isso porque não há maneira correta de enxergar algo, mas sim, um ângulo que me propicia uma visão X e não Y daquela coisa.



Um cristão que tem certeza de que Cristo é o salvador não tem mais certeza do que a que um muçulmano tem de que Cristo é só um profeta. E como dizer quem está certo, se ambos têm a mesma certeza? Alguém vai me dizer “isso é uma questão de fé”, que é o coringa para resolver essa situação. É a opção para não pensar, pois esta frase anula qualquer possibilidade de reflexão e questionamento. Crer que Jesus é deus é tanto questão de fé quanto crer que ele é só um profeta. Voltamos à mesma: não há como saber quem tem a razão ou se, na verdade, existe alguma razão nisso.

Parafraseando o amigo escritor Félix Maranganha, o mundo não é por si lógico. A lógica é a maneira como os humanos organizam suas ideias. Assim sendo, impomos lógica ao mundo. Ou seja, a realidade não está no mundo, mas nas nossas mentes. O mundo não é nem deixa de ser como pensamos... o mundo apenas é... uns dizem que ele é azul, outros dizem que é preto, outros, que é rosa e tem alguns que acham que todos os outros são daltônicos. Quem está certo? Não sei. Precisamos mesmo que alguém esteja certo? “Eu acredito” e “eu não acredito” são frases que trazem por elas mesmas uma dúvida. Por que não parar de tentar achar desculpas para aquilo que não se sabe e, em vez disso, pronunciar um sonoro e libertador “eu não sei”?

18 comentários:

Bruno Ribeiro disse...

Muito bom post. Fazia tempo que não via um ateu falar com tanta sensatez e inteligência. Os "ateus de boteco" que andam por aí se achando os sabidões porque decoraram meia dúzia de frases de efeito são, no meu modo de vê, tão manés quanto as pessoas que eles criticam. Tudo farinha do mesmo saco. Mas parabéns pelo post.

Só queria fazer algumas observações que certamente vão contribuir para o debate.

1. Quando alguém diz "Eu falo em Deus, não em religião" o sentido é que a pessoa está se mostrando hostil com uma(s) determinada(s) instituição(ões). Dá pra falar em Deus sem falar em religião? Sim. A filosofia faz isso. Os argumentos cosmológicos, teleológicos para a existência de Deus, por exemplo, não são religiosos e sim profundamente filosóficos.

De qualquer forma, o sentido é de pessoas que são hostis à igreja e cordiais para com Jesus, por exemplo. Afinal, a mensagem original do cristianismo, do judaísmo e do islamismo é uma mensagem de amor, paz, perdão, misericórdia. Se os seguidores dessas religiões deturparam ou não seguiram esses preceitos, aí é outro departamento...

2. De fato, não é preciso acreditar em um Deus para se ter uma religião. Corretíssimo. Algumas religiões e até filosofias de vida (como o existencialismo e talvez o niilismo) descartam a ideia de uma Deus pessoal; mas elas possuem uma visão bem religiosa da vida. É bom lembrar que acreditar em Deus não necessariamente leva a ser adepto de uma religião. Pessoas que acreditam que Jesus é Deus podem não ser cristãs (aliás, as últimas cartas escritas no Novo Testamento mostram e combatem essa ideia de que crer e seguir uma religião é a mesma coisa). Os deístas acreditam em um Deus, mas essa divindade não se revelou para a humanidade. Por isso, eles, talvez, podem são uns "sem religião". Entre crer e querer seguir, tem um pequeno abismo. Ateus como Carl Sagan e Richard Dawkins são profundamente religiosos, mas em outro sentido não institucionalizado. Já várias pessoas que acreditam em Jesus, não estão lá dispostos a seguir seus pesados padrões morais ou à aderir a uma religião institucional.

3. Isso: cada religião teísta enxerga seu deus de uma maneira diferente. Só é essencial não confundir Cristianismo com Catolicismo, nem Trindade com Três Deuses. Isso é muito importante pois nem tudo é farinha do mesmo saco.

Bruno Ribeiro disse...

4. De fato,nosso conhecimento é limitado e é impossível ter certeza absoluta de alguns fatos. Mas nem por isso se deve aceitar passivamente essa premissa e não fazer nada. É bom lembrar que uma crença não é válida só porque os pais, a sociedade, a cultura aceita; ou porque traz conforto, esperança, propósito; ou ainda porque o pastor disse ou o padre ou alguma Escritura Sagrada. As razões para as crenças devem ser filosóficas. Ou seja, se a crença se mostrar uniforme, coerente e demonstrar inteireza (melhor explicação para os fatos). A lógica, a evidência e a ciência é que podem nos dar uma luz nesse sentido.

5. Por isso, dizer que fé é apenas uma questão de crer é falso. E muito falso. Sei que muitas pessoas acham isso. Mas tanto o ateu que afirma isso quanto o cristão estão com preguiça de pensar. Como o apóstolo Paulo falava, se Jesus não ressuscitou é vã e falsa nossa crença. Não vale a pena seguir. Sobraria apenas uma religião com uma ética notável e ponto. Isso também não me interessa. Interessa sim saber se realmente aconteceu. E como podemos fazer isso? Através da ciência, da filosofia, das evidências... enfim, temos ferramentas disponíveis para saber se algumas doutrinas religiosas são verdadeiras ou não. Agora, para isso, basta arregaçar as mangas e ir procurar.

6. Por isso sou cristão. Vejo que o cristianismo é a melhor explicação lógica e coerente para as evidências que temos disponíveis. E não falo isso porque está escrito em quatro livros antigos e ponto. Não. O cristianismo responde, a meu vê, as evidências de forma muito superior a outras cosmovisões. Jesus ressuscitou. E porque digo isso? Porque os Evangelhos o dizem. E como saber se os Evangelhos não são criações ou invenções de alguém? É nesse ponto que entra a ciência histórica, a filosofia, a inteireza, etc. Vê? Não é apenas uma questão de "crer" e "não crer", é uma questão de Não ter preguiça de raciocinar, arregaçar as mangas e observar como a filosofia responde as evidências que temos(e claro, para onde a evidência aponta).

7. De qualquer forma, parabéns pelo post. Apesar das observações, ele estar muito sensato! O bom é construir o debate, esquivar-se do fácil e ser tolerante com as pessoas que discordam do nosso ponto de vista. E, claro, ajudar na construção de um mundo menos injusto, menos preconceituoso e melhor!

Que o Senhor Deus nos abençoe!

Bruno Ribeiro disse...

Só uma observação sobre seu desenho:

Achei ele engraçado e inteligente, mas ele tem uma armadilha óbvia e faz uma analogia falha.

Notou que você desenhou de tal forma que parece que você está sendo objetivo? Aliás, o único objetivo? Vendo de cima das pessoas que estão enxergando ali um triângulo, um retângulo ou uma circunferência? Ou seja, dava pra fazer outro desenho, só que dessa vez com outra pessoa dizendo para os três "gente, vocês estão enxergando apenas pedaços. Eu tou vendo tudo. Tou vendo a verdade". Esse ponto de vista não é religioso também?

Alyson Vilela disse...

Percebi assim que fiz o desenho, mas não sou bom com desenhos e tive preguiça de mudar.

Alyson Vilela disse...

Sobre o "eu não falo em Deus, falo em religião", é preciso contextualizar. Você está me dando um contexto diferente do que eu falei. Naquela situação, falar em Deus é falar em religião sim.

Alyson Vilela disse...

Outra coisa que eu até já comentei antes contigo: você está certo em dizer que devemos usar ciências como a história para confirmar nossa fé. Com relação à filosofia, não. Filosofia não é ciência, não tem método nem objeto. Ela não tem finalidade de provar, mas de questionar. A filosofia não é usada para encontrar respostas, mas para levantar problemáticas.

Maranganha disse...

Bruno Ribeiro

1. Primeiramente não dá para falar de deus sem envolver religião, pois a percepção de um deus é algo muito limitado a determinadas formas de pensar. Sem falar de que os argumentos cosmológicos e teleológicos estão presentes em filósofos cristãos (Agostinho, Tomás de Aquino, Anselmo de Cantuária), muçulmanos (Averróis, Avicena, Gazzali) e judeus (Maimônides). Os demais filósofos não monoteistas não viam a teleologia e acosmologia como provas da existência de um Deus (na verdade, a identificação entre essência e existência veio somente com o monoteísmo).

2. Segundamente, religião é uma construção com doutrinas e uma instituição, o que torna o niilismo e o existencialismo não-religiões. Crer em deus é possível sem religião? Não, e isso devido aos atributos que os cristãos dão a esse deus, específicos como, por exemplo, a pessoalidade. Esses atributos não são achados em todos os deuses (os deuses gregos eram pessoais e humanizados, mas o motos primeiro de Aristóteles, por exemplo, era completamente impessoal).

3. Outro problema é que, no teísmo cristão, argumentos como "a trindade" são sim três deuses, pois a distinção entre substância e essência de Agostinho para resolver o problema da trindade incorre em um erro gravíssimo: ele não determina a unidade, pois, em essência, seríamos também deuses por participação com a essência e sendo de substâncias distintas. Por isso, o argumento da trindade, que vem desde Agostinho,não convence mais.

4. Não é possível ter certeza absoluta sobre nenhum fato. As razões filosóficas para o cristianismo são fracas e excludentes, pois eliminam as possibilidades opostas impossíveis antes de qualquer teste (e esquecendo que a própria apresenta incoerências e contradições já há muito conhecidas). Por isso, nem mesmo a lógica é capz de explicar uma religião sem a necessidade de uma volta maior muito longa para ir de A a B, tornando necessário um recurso como a Navalha de Ockham.

5. "Como o apóstolo Paulo falava, se Jesus não ressuscitou é vã e falsa nossa crença" - e por que isso seria tão mal? Qual seria o problema de religiões com éticas notáveis que podem ser seguidas? Se com uma "crença verdadeira" há tanta dificuldade em seguir o cristianismo, quem sabe sendo uma "falsa crença" não possa ir mais longe? Talvez seja essa a diferença entre o cristianismo e outras religiões: elas não querem saber se realmente aconteceu, mas apenas se aquilo pode ser aplicado no dia-a-dia.

6. E por isso te pergunto: se os "fatos" da Bíblia nunca aconteceram, isso invalida a ética contida lá? Não considero o Cristianismo nada coerente.Nem histórico, nem filosófico, nem usando o argumento da inteireza. Na verdade, a inteireza só será possível abrindo-se mão do antigo testamento, eliminando a ética contida lá, e negando o Deus Vetero-Testamentário.

Bruno Ribeiro disse...

Primeiro o Allyson

Por partes:

1. Sobre o desenho: eu entendi o que você quis dizer. A figura é bem persuasiva. Entretanto, a pergunta "qual a perspectiva daquele que ta vendo os três homens já contradiz o desenho" (já que ele é objetivo o suficiente para vê que os três homens estão errados. Nesse caso, você estaria "certo").

2. Pode até ser, mas geralmente quando alguém cita o chavão "Cordiais com Jesus, hostis a religião", religião é igual a uma instituição X. Pode prestar atenção.

3. Citei a filosofia porque ela tem um papel essencial na ciência: ela é a "fiscal". Ela é que vai vê se os argumentos apresentados são coerentes, uniformes, etc. Sendo assim, ela é essencial nessa questão!

Bruno Ribeiro disse...

Agora o grande Félix.

Também por partes:

1. Claro que dá. E o deísmo? Aliás, esse foi o grande objetivo do deísmo: ter liberdade de falar e raciocinar sobre Deus sem colocar "dedos teológicos" no meio, não foi? Além do mais, defensores do argumento cosmológico, por exemplo, o Paul Davies não é cristão, nem mulçumano, nem judeu. É um deísta. O cara é um cosmólogo respeitadíssimo e acredita que a biossociabilidade do universo aponta para um principio abrangente que impulsiona o desenvolvimento da vida e da mente. O livro dele (Goldilocks Enigma) foi muito elogiado. A crítica justamente que ele recebeu foi de não conceder um "Deus tradicional" na sua teoria. Vê? Uma discussão filosófica-cientifica. Religião foi praticamente "convidada" a ficar de fora.

2. Vejo um problema nesse nosso debate, por isso não estamos conseguindo levar adiante: o que uma religião? O Alyson respondeu perfeitamente que não é preciso um deus para se ter uma religião. Definir religião como "crença em Deus" é uma ideia muito cognitiva. Na verdade, a "crença em Deus" não é o único aspecto da religião, nem necessariamente o mais fundamental. Deve-se levar em conta seus muitos aspectos (crenças, conhecimento, experiências, práticas ritualísticas, filiação social, motivação, consequências comportamentais...). Daí vai a dificílima diferença entre visão de mundo e religião (algo que os especialistas quase não ousam distinguir. Por isso, eu também não...rsrs).

Bruno Ribeiro disse...

3. É bom lembrar que a Trindade, como pensava Agostinho, é bem diferente da Trindade aceita por boa parte dos teólogos cristãos (aliás, existe diferença ainda hoje entre o conceito de Trindade no Catolicismo, Protestantismo e no Cristianismo Ortodoxo). Os apologistas cristãos reconhecem que a forma de dinvindade proposta por Agostinho é problemática. De qualquer forma, hoje em dia a crença na Trindade afirma que existe três PESSOAS em uma natureza. Isso pode ser um mistério, mas não uma contradição: os cristãos afirmam que há três pessoas em uma essência. Isso não é contraditório porque faz uma distinção entre pessoa e essência. Em outras palavras, Deus tem um "Algo" e três "Alguens". Os três Alguéns (pessoa) compartilham o mesmo algo (essência). Assim, Deus é uma unidade de essência com pluralidade de pessoa. Cada pessoa é diferente nessa relação, mas as três compartilham uma natureza comum. Por isso, Deus é um em essência e em substância. E é nisso que reside a unidade de Deus. Sua pluralidade (três) está nas pessoas de Deus (você me deu uma ideia. Vou explicar melhor essa questão em um artigo no meu blog). De qualquer forma, é assim que o Cristianismo atual concebe a trindade (vê como ela é lógica e coerente)!

Bruno Ribeiro disse...

4. Não é possível ter certeza absoluta sobre as nenhum fato? Você está certo disso? E essa sua frase "não é possível ter certeza" é uma frase falsa em si mesma, porque ela não satisfaz o seu próprio padrão. Ou seja, você está afirmando que não é possível ter certeza. Logo, não é possível ter certeza se é possível não ter certeza (dá um nó na cabeça, mas acho que deu pra perceber a lógica da coisa).

E você acha as razões filosóficas fracas e excludentes? Quais?

Vou dar uma exemplo de uma possível contradição a fim de observar como a suposta contradição da onipotência de Deus é utilizada de forma equivocada.

Exemplo: a suposta contradição está na onipotência de Deus:

1. Deus pode fazer tudo (onipotente);
2. Assim, Ele pode fazer uma pedra tão pesada que não consiga movê-la;
3. Logo, Deus não pode fazer tudo.
4. Mas as premissas 1 e 3 são contraditórias.
5. Logo, é contraditório afirmar que Deus é onipotente.

Entretanto, nenhum teísta sofisticado realmente acredita na premissa 1 de forma não qualificada. Acreditamos que:

1. Deus pode fazer tudo que é possível.
2. Não é possível fazer uma pedra tão pesada que não pode ser movida.
3. Portanto, não é possível Deus fazer uma pedra tão pesada que não possa movê-la.

Tem coisas que Deus não pode fazer: ir contra sua própria natureza, nem fazer o que é logicamente impossível (como uma círculo quadrado), nem negar a lei da auto-contradição.

Ou seja, esse argumento é baseado numa caricatura de Deus, não demonstrando qualquer incoerência no atributo da onipotência.

Já sobre a Navalha de Occam, há duas falácias. Primeiro é interpretar o princípio no "quanto menos, mas verdadeiro". Mas não era isso que Occam tinha em mente. O que se afirma é que causas não devem ser multiplicadas SEM necessidade. Ou seja, não se deve supor mais causas a fim de explicar os dados. A verdadeira explicação poderia ter muitas causas, e ter menos seria incorreto. Mas complicar desnecessariamente o problema torna o raciocínio incorreto. Além do mais, Deus é um "conceito" simples (aqui, é bom não confundir simplicidade com complexidade).

É importante ser honesto e dizer que alguns apologistas cristãos (como Cornelius Van Til) afirmam que a existência de Deus é a condição transcendental necessária ante à inteligibilidade de toda a experiência humana e do pensamento. Ou seja: não há outra opção viável para finalmente explicar qualquer fato da experiência humana ou do conhecimento, muito menos um mais "simples".

Bruno Ribeiro disse...

5. Félix, essa questão que você coloca é de suma importância (e excelente).

É bom lembrar que na cosmovisão cristã, esse mundo não é o ideal de Deus para nós. O Novo Testamento promete uma eternidade para aqueles que aceitaram o sacrífico de Jesus na cruz. Daí Paulo afirmar que "se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
(...) E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
E também os que dormiram (morreram) em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" (I COR 15).

Como diria C S Lewis, "Tudo o que não é eterno é eternamente inútil". Existe uma esperança de um mundo melhor para os cristãos, que tem como alvo principal viver uma eternidade ao lado de Seu Salvador (Jesus), rever as pessoas amadas e ter uma eternidade toda pra estudar e trabalhar nos mistérios de Deus. Se isso for apenas uma ilusão, então não vale a pena! (Pense nos mártires como João Huss, e o próprio Pedro e Paulo, que morreram com essa esperança). Caso seja falsa, eu me sinto o mais infeliz dos homens! Afinal, vê meu Salvador (Jesus) é se relacionar com ele é meu grande sonho. Percebe o ponto?

6. Não inválida. Aliás, a ética ali deve ser seguida (pois ela é bem prática e dificílima). Amar o inimigo, orar pelos que perseguem... No cristianismo, sem o auxilio de Cristo, isso é algo praticamente impossível.

E dá pra ajustar o Deus do Antigo e do Novo Testamento, sim! São o mesmo. Basta olhar os 39 livros do Antigo e os 27 do Novo a fim de perceber que ambos são amor, misericórdia, bondade, justiça entre outros atributos!

7. Muito bom o debate com vocês!

Alyson Vilela disse...

Só li a minha parte, depois leio a parte a que você responde a Félix. Sobre o desenho, já está explicado. Não precisamos falar ad infinitum né.

Sobre a ideia de que a filosofia fiscaliza a ciência, creio que desde o século XVIII, depois de Descartes, essa ideia já não funciona mais. A filosofia se queria (e até hoje arrogantemente certos filósofos querem) como a ciência maior ou o fiscalizador da ciência.

A filosofia nada mais faz do que levantar problemáticas. A ciência pode sim se servir da filosofia para investigar, mas sabe como? Fazendo questionamentos. Essa é a parte da filosofia. A partir daí, para responder, a ciência é que assume.

A filosofia pode ser usada até para questionar um trabalho científico considerado comprovado. Mas, pelo fato de não poder responder, ela fica de lado novamente. Assim sendo, um cientista não precisa ser filósofo para questionar dados científicos e trabalhar para confirmá-los ou contradizê-los.

Então continuo com a posição de que a filosofia entra na reflexões, mas não nas respostas. E ainda mais que a filosofia não pode ser elevada ao grau de fiscal da ciência.

Alyson Vilela disse...

O cristão é tão intolerante, que nem mesmo um pedido de respeito é tido como tal. Eu escrevi um texto que fala sobre como existe um preconceito contra ateus. Esse texto não doutrina ninguém e, muito claramente, não tem uma mensagem pró-ateísmo. Uma pessoa não é estimulada a virar ateia por minhas palavras.

O texto é simplesmente assim: eu sou ateu, você não é. Quem está certo? Não sei. Quem merece respeito? Os dois. Eu quero somente respeito.

A sua resposta, Bruno, se tornou em uma batalha para ver quem é mais culto, mais inteligente, tem mais conhecimentos de ciências e filosofia e uma tentativa de derrubada de argumento. Ora, pode discordar dos meus argumentos periféricos. O problema é que você torna essa discordância central, quando a ideia central do texto é: quem acredita em Deus, ok... apesar de eu não acreditar, vocês podem estar certos. Mas não estão certos de não me aceitarem por não crer. Só isso.

Bruno Ribeiro disse...

Opa rapá,

Vamos por partes aqui:

1. Você está corretíssimo sobre o desenho!

2. Olha, minha discussão com você e com o Félix estão no mesmo ambiente, mas são bem diferentes, viu? Com você, estou discutindo a questão da verdade, do respeito, da religião diferente da instituição. Com o Félix a coisa partiu pra um debate bem filosófico. Não porque eu quis, mas porque ele levantou questões muito importantes sobre a inteireza do cristianismo, as razões filosóficas para o cristianismo, entre outras. São questões muito importantes, mas que não diz necessariamente a seu texto. Seu texto, realmente, tem outro objetivo. Rebati porque foram levantadas.

3. Homii (como a gente diz aqui no nordeste) ... esqueça isso de mais inteligente, mais culto, mais não se o que lá. Isso é besteira e balela (além, claro, de não levar o excelente debate para lugar nenhum). Se me mostrei assim, peço desculpas!Eu até elogiei seu texto: claro, preciso, inteligente. Bem diferente dos ateus de meia tigelas que você vê andando por aí, "pregando" que Deus não existe com a "excelente" justificativa do "porque não existe".

4. E olha a questão do respeito aí. O cristão é intolerante? Você não está sendo intolerante com os cristãos? Aliás, você ta medindo por qual parâmetro? Porque, veja: se você estiver porque um fundamentalista disse que vocês não merecem respeito, então é injusto. Da mesma forma que se eu medir que os ateus são intolerantes por causa do mané do Richard Dawkins (e dos absurdos que ele fala) será extremamente injusto. É bom sempre lembrar disso.

5. E você está certo: tem que lhe aceitar por não crê. E com o máximo respeito. E com a máxima liberdade. E com o máximo direito. Da mesma forma que tem que ser feito com relação a crenças que são consideradas loucas (criacionismo, astrologia, etc) e com estilos de vida não conservadores (homossexual). Se você não crê, isso o torna pior? Não. Rebaixado? Não. Com menos direito? Não.

Bruno Ribeiro disse...

6. E eu acho que essa discussão vai até mais além: em respeito aos ateus, agnósticos, muçulmanos, entre outras, tinha que tirar os símbolos religiosos das paredes dos espaços públicos, entre outras coisas. Afinal, o cara que vai resolver alguma coisa em um júri, é porque ta com um problema. Aí ele entra lá, e vê um crucifixo, não me irrita nada. Mas pode irritar outra pessoa (ou ferir, ou outro sentimento). Ou seja, o mundo não gira em torno de mim e do cristianismo. Gira em torno do respeito a diversidade. Repeito que se deve ter até com quem acredita que sua religião é o caminho exclusivo para o céu (que não é o caso do cristianismo, e que muita gente confunde O caminho com ÚNICO caminho. Mas tudo bem).

7. Escrevi no observatório da imprensa sobre isso a um tempo atrás. Segue link: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/pastor-e-padre-podem-opinar

8. Não o ateísmo irracional. Nem moralmente louco. Acho sim os neo-ateus um caso sério. São uns fundamentalistas tanto quanto alguns grupos protestantes norte americanos e muçulmanos. Richard Dawkins, Hitchens, Sam Harris e Dannett constituem sérios problemas para o mundo. Pelo que estou vendo, ainda bem que você não passa nem perto desses fundamentalistas. Parabéns por isso!

9. No mais, se você se sentiu ofendido, me desculpe. Desculpe também pelas "Bíblias" que escrevi (eu gosto de explicar bem explicadinho). Mas que fique bem claro que você não pode pegar uma régua e medir todos os cristãos como intolerantes, irracionais entre outros adjetivos que os ateus amam usar. Se os ateus merecem respeito? Isso não tem nem o que discutir (essa discussão infelizmente só prova que estamos longe da civilização...rsrs). Repito: merecem todo respeito, todo direito, são muito racionais. Agora, cuidado para, com esses fatos, não inverter o jogo e aplicar aos cristãos títulos que os ateus não gostam (com razão) de receberem, entende?

10. Não sei sua opinião, mas foi muito bom o debate com você e com o Félix. Mostra que há sim ateus pensantes no mundo!

Bruno Ribeiro disse...

Ei, Alysson, eu tava pensando sobre essa questão do mais inteligente. Não sei se você concorda comigo, mas veja o que penso:

Acredito que existem diferentes tipos de inteligência. Você me considera inteligente? Mas não chego nem perto do Beethoven tocando piano. Ou do meu avô que é semi analfabeto para construir uma casa. Ou dos editores de televisão para editar um vídeo. Meu irmão (Breno) faz publicidade e tal. Posso conhecer teologia, filosofia e comunicação, mas não chego nem perto dele. Se a gente fizesse um "campeonato" ele ia ganhar com sobras de mim. O que você faz? Aposto que o que você faz, no que você é bom... você é infinitamente mais inteligente que eu. E o que o Félix faz? Mesma opinião. Então, essa coisa de "mais inteligente" eu acho balela. Não é caso de alguém que conhece filosofia ser mais inteligente do que um pedreiro. Não. São inteligências diferentes, para situações diferentes (aliás, meu objeto de estudo atualmente na comunicação é nesse ponto). Acho que existem inteligências diferentes (e o bom é quando a gente coloca elas praticamente).

Enfim, penso assim! Se "tentei mostrar" ser inteligente, peço até desculpa porque é algo que nem eu mesmo concordo (mais inteligente, menos inteligente, etc).

Alyson Vilela disse...

Apaguei o último comentário (anônimo inclusive), porque discordar é uma coisa, ofender é outra. Isso eu não vou deixar aqui.