segunda-feira, 29 de julho de 2013

De qual quadrilha faço parte?

Eu cheguei a uma reflexão, talvez pouco ortodoxa, mas que faz bastante sentido. O mundo é composto por bandidos, que estão divididos em dois tipos: os que a sociedade considera bandidos e os que a sociedade considera cidadãos de bem. Todos eles são bandidos, mas de facções diferentes. Sim, é isso que estou dizendo: somos todos bandidos.

Começo pontuando uma queixa frequente expressa pelo grupo dos cidadãos de bem: "Para um bandido, uma vida vale menos do que um celular ou uma carteira, isso é um absurdo". Queixa legítima, é mesmo um absurdo. Tem gente que morre mesmo por um celular. Mas esse mesmo cidadão de bem pega uma pessoa que está batendo carteira na rua ou furtando celulares, junta com mais uma quadrilha de cidadãos de bem e lincham o rapaz, às vezes até a morte. Espere um pouco! Não tínhamos acabado de dizer que uma vida valer menos que um celular ou uma carteira era um absurdo? Agora fiquei confuso.

Alguns justificam: mas ele me ameaçou de morte. Mas matou? Continua a velha história: o cara rouba seu celular, você consegue pegar ele e desce o pau, às vezes até a morte (ou atropela, como aconteceu recentemente e a população achou o máximo). Isso sem contar com os que não assaltaram a mão armada, cometiam apenas furtos. Ou seja, para você também a integridade física ou a vida humana vale menos que um celular. Perceba então que, por essa lógica, não há nada de errado em matar para roubar um celular. A vida humana, tanto para a quadrilha dos bandidos quanto para a quadrilha dos cidadãos de bem, vale menos do que um celular.

Outro exemplo: recentemente, um homem completamente bêbado ficou nu em uma festa de formatura. Um grupo de amigos meus falaram que, se estivessem lá com a namorada (sobretudo pela falta de respeito a ela), teriam entrado dando voadora nele, que a punição merecida seria o linchamento. Estamos de volta à moral em que a vida humana vale menos do que outros valores (agora, um dito pudor subjetivo de subjacência judaico-cristã). Não vou entrar no quão machista é essa partida em defesa da "inocência da minha indefesa namorada". Isso fica para outra discussão. A questão é: seria o ato de ficar pelado em público uma falta ou um crime mais grave do que lesão corporal (talvez grave) com o risco até de morte? Essa moral sexual é mais importante, novamente, do que a integridade física humana?

Enfim, acho que somos um bando de bandidos hipócritas tentando mostrar ao mundo que o crime do outro justifica o nosso. Que nós somos cidadãos de bem por praticar crimes contra quem pratica crimes (às vezes menores do que os nossos). Isso me faz pensar naquele cara que matou 50 pessoas queimadas vivas numa pilha de pneus, está no presídio e, quando chega um estuprador, arrebenta a cara dele. O motivo? Porque estupro é um crime inaceitável. Claro, afinal matar 50 pessoas queimadas vivas numa pilha de pneus é um crime adorável, né?

Vivemos em um mundo bandido em que a vida e a integridade humana está longe de ser o bem mais precioso. Somos um monte de bandidos hipócritas que apenas acham que a quadrilha rival está errada e a nossa quadrilha é uma pobre vítima defensora da boa sociedade. Pense nisso. Você acordou hoje se sentindo um cidadão de bem?

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