Lá está o dirigível
Conectado à plataforma
E ninguém sabe tão bem
O destino dos que vão
Decola sempre lotado
E retorna sem ninguém
Uns sonham com um destino
De uma praia ou uma montanha
Uma ilha naturista
Habitada por mulheres
Outros dizem que o que volta
Nem a mesma nave é
Pois aquela que partira
Se tornou num hindenburg
É difícil decidir...
O que há nessa jornada?
Um delírio xamanista?
Um incêndio hidrogenado?
É um zepelim que leva
E o que volta, qual será?
Vai que nem destino tem
Ele apenas parta e vá..
Vá e vá e vá sem fim
E em algum dado momento
Cai nas bordas do planeta
E por lá se aniquile
Quanto mais o observo
Quanto mais me achego a ele
Menos medo ele me dá
Essa máquina infernal
De hidrogênio inflamável
Medo... pavor...
Mas quanto mais...
quanto mais convivência...
Menos medo...
mais conformação
Inclusive às vezes deixo
Uma mala lá no porto
Num armário lá por perto
Sob um lacre a cadeado
Mas não permito no entanto
Que se embarque uma sequer
E duvido que algum dia,
Uma delas lá embarque
Eu irei... mas as malas... sei lá se vale a pena
Chego lá com meia dúzia
Deixo duas, voltam quatro
Dou uns dias, recupero,
E levo todas pra casa,
E com mais uma semana,
Volto ao porto com mais doze
E mais doze cadeados
Dia desses inda embarco
Nesse voo sem destino
Ou talvez grande destino...
(vai saber)
No gigante zepelim
E ao partir este aeróstato
Que não fiquem lá parados
Olhar longe em meio ao cais
E que o céu seja renovo
E que nunca se resuma
A um estreito e curto cais
À espera de uma nave
Que não volta nunca mais.
Um comentário:
Gratidão por compartilhar tão profundo sentimento. Versos brancos e tão brandos no olho desse furacão que é a existência na eminência da inexistência.
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