quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Se não explicamos, não é natural

“Meu pai estava mal, prestes a morrer e, de repente, algo aconteceu e ele ficou bom. Ao perguntar aos médicos, eles disseram que não tinham explicação para o fato. Disseram que a ciência não explicava o que aconteceu. Lógico que foi um milagre de Deus”.

Quantos há que nunca ouviram essa afirmação? Provavelmente todos já ouviram isso e, bem provavelmente, várias vezes na vida. Por outro lado, já ouvimos muitas vezes “esses cientistas ateus são egocêntricos. Acreditam que podem e sabem tudo com sua ciência”. Gostaria de analisar por um outro ângulo a visão do egocentrismo humano.

Qual o papel da ciência?

Precisamos, antes de tudo, entender como o cientista vê a sua ciência. Ela não é infalível, mas é o que o ser humano tem. O que quero dizer com isso? A ciência é uma maneira humana de descobrir o mundo e a nós mesmos. Nem tudo o que está no universo (e muito, muito longe de tudo) está contido na ciência. Porém, tudo o que o homem sabe está na ciência. Assim, confiar na ciência não é achar que podemos saber de tudo, mas saber que teremos acesso a tudo o que o homem descobriu até hoje.

E quando nos deparamos com o inexplicável?

No passado, nossos ancestrais afirmavam que os trovões eram o barulho dos deuses guerreando com seus raios mortais. Até que, um dia, a ciência descobriu como funcionavam os relâmpagos e os consequentes trovões. Alguém ainda acha que é a guerra dos deuses?

O problema (ou não) do ser humano, é que ele é inquieto. Sua inquietação tem um lado bom: ele nunca se satisfaz com o que sabe e quer sempre conhecer mais. Aprendemos sempre coisas novas e sempre estamos fazendo por onde viver melhor com o que sabemos. Mas também existe um lado ruim: quando nos deparamos com o desconhecido, nossa frustração é tanta, que nos recusamos a admitir que desconhecemos. É aí que entra o que eu considero o verdadeiro egocentrismo humano.

“Conhecemos toda a natureza”

Quando o homem se depara com algo que a ciência não explica, ele tem tendência imediata a negar que desconhece a origem do fato. Ele sabe a resposta: foi Deus, foi o sobrenatural, foram os orixás, foram os demônios, foi o espírito do meu pai etc. E a frase é bem recorrente: não há explicação científica, logo, é sobrenatural. Uma pessoa que acredita dessa forma tem muito mais fé na ciência do que qualquer bom cientista.

Qualquer cientista sabe que o que a ciência não explica pode vir um dia a ser explicado ou pode ser que permaneça para sempre desconhecido pelo homem. Mas isso não exclui a possibilidade de o fato ser natural. Quando, cientes de que ciência é conhecimento humano, pronunciamos a frase (ou alguma similar a) “Se a ciência não explica, é porque é sobrenatural”, estamos incorrendo na incrível arrogância de afirmar “tudo o que é natural o homem conhece. Se o homem não sabe, não é natural”. É quase como dizer que o homem conhece 100% da natureza.

O que é o inexplicável?

A ciência não explica tudo. Isso significa que há fenômenos que fogem ao natural? Não, significa que há fenômenos naturais que o homem desconhece e/ou não sabe explicar. A ciência, por mais evoluída que esteja, não dá conta de 1% do universo. Cientistas têm consciência disso. Religiosos que afirmam que o que o homem não explica é sobrenatural, não. Confiam demais na ciência.

Então como posso responder à questão que fiz no subtítulo “o que é o inexplicável”? Simples, eu não posso. Quando somos confrontados por algo que nós não explicamos, existem duas possibilidades: 1) você não sabe o que é aquilo, pode até achar que é sobrenatural, mas já existe algum cientista (ou até milhares) que saberão explicar direitinho o fenômeno; 2) nem você sabe, nem qualquer outra pessoa. Isso significa que o ser humano ainda não chegou a uma resposta (e pode nunca chegar).

Então, quando não sabemos explicar um fenômeno, não significa que ele é sobrenatural, significa que não sabemos explicar um fenômeno. Há coisas no mundo que são consideradas sobrenaturais e a ciência já explica como fenômenos naturais. Há coisas que a ciência ainda não explica ou talvez nunca venha a explicar. E quando alguém me pergunta “Se você não crê em sobrenatural, como você explica o fenômeno tal?”, minha resposta é simples: eu não explico.

10 comentários:

Maranganha disse...

É igual a aparição de OVNIs. Uma pessoa sensata diria: "olha, o que é aquilo?", "Não sei", e pararia por aí. Mas, quando vamos mais a fundo, percebemos que a maioria não diz "não sei", mas tece toda uma rede de explicações implausíveis detalhando até a sociologia e a política de uma Parlamento Galático de milhões de anos de existência de seres supra-iluminados.

Bruno Ribeiro disse...

Excelente Alyson. Só uma dúvida: como você saberia que REALMENTE se deparou com um evento sobrenatural? Por que ao afirmar "quando não sabemos explicar um fenômeno, não significa que ele é sobrenatural, significa que não sabemos explicar um fenômeno", você não está partindo do pressuposto que o sobrenatural não existe? E se realmente Deus curou X? Como saber? Qual a diferença entre afirmar "Foi Deus, uma dia descobriremos como e porque, mas foi Deus" para "Não foi Deus, um dia a ciência vai explicar, mas não foi Deus".

Ps: Não estou dizendo que tudo que não sabemos explicar foi Deus. Não acredito no Deus das lacunas. É só pensar se o pressuposto que partimos não vai influenciar a evidência a ponto de não notarmos quando a evidência apontar realmente pro sobrenatural.

Alyson Vilela disse...

Obrigado Bruno. Só corrigindo: eu não disse que um dia a ciência explicará. Ao contrário, disse algumas vezes que talvez ela nunca explique. Eu também não disse que não existe sobrenatural. O que eu disse é que não podemos dizer "não podemos explicar = sobrenatural". ;)

Ana Vogeley disse...

Ótima reflexão! Essa mania que o ser humano tem de achar que, se que não pode explicar, é porque está acima da razão. "se não posso explicar, é porque não tem explicação, é sobrenatural", só revela a superestima que depositamos em nós mesmos... isso pra mim é preguiça de pensar, ou pouca habilidade pra isso. Não tem explicação? talvez ainda!

Bruno Ribeiro disse...

Eu acredito nisso aí que você colocou. O que eu quero é levantar o debate, porque essa questão eu venho me debatendo a uns 3 anos, entende?

Por isso os questionamentos. Acredito em Deus. Mas não acredito que a mão de Deus está em cada passo. Existe sorte e azar na vida sim. As vezes uma bala perdida me pega. Eu poderia tá no lugar errado e a mão de Deus não ter nada haver com isso necessariamente.

Por isso levantei, porque penso muito nas questões que você colocou aqui no post. QUERO UMA LUZ...rsrs

Alyson Vilela disse...

Pois é Bruno. Eu também pensava muito nisso, mesmo quando acreditava em Deus. Na verdade, esse post não é tipicamente ateu (apesar de ter sido escrito por um ateu). São questionamentos que vão em um ponto em que eu não entrei a fundo no texto: nos achamos muito mais importantes do que somos.

Luiz disse...

Olá Alyson, Muito bom o questionamento. Deus nos colocou no mundo de nos deu o livre pensar. Nossa mente cria situações e eventos que a ciência nem a psicologia conseguiu explicar e quiça conseguirá um dia. Deus cria as coisa em sua forma de maneira tal para que pareçam fenômenos da natureza, e o homem em sua engenhosidade é que interpreta o fenômeno seja ele sobrenatural ou não. Assisti um reportagem de um raio de 1 milhão de volts atingiu a cabeça de um garoto e saiu para terra pela perna e o garoto não morreu. Foi um fato sobrenatural, porem analisando pela ciência o material da roupa a posição que ele estava e seus sapatos descarregaram o raio no garoto ate o chão. O mesmo teve queimaduras leves. Até que ponto nossa mente nos leva ao sobrenatural? Deus nos da entendimento até ao nosso racio, deste ponto em diante Ele ainda não descortinou para o entendimento humano.
O que sempre leva a questionamentos infrutiferos, pois não temos a capacidade do entendimento.
Abraços Luiz
visite meu blog verdesnaturais.com

sotero rubens disse...

Os deuses são outro nome para nosso ignorância.

Afra Vilela disse...

Alyson, gostaria de me expressar através do pensamento de Cury: A ciência se cala quando a fé se inicia.A fé transcende a lógica, é uma convicção em que há ausência de dúvida. A ciência sobrevive da dúvida. Quanto maior for a dúvida, maior poderá ser a dimensão da resposta. Sem a arte da dúvida, a ciência não tem como sobreviver e expandir a sua produção de conhecimento... A fé extrapola o sistema sensorial e cria raízes no âmago do espírito humano... A ciência não tem como investigar o que é essa fé, pois, como suas raízes se encontram no cerne da experiência pessoal, ela não se torna um objeto de estudo investigável. Todavia, apesar de Jesus Cristo falar de fé como um processo de existência transcendental, ele não anulava a arte de pensar; pelo contrário, era um mestre excepcional nessa arte. Ele não discorria sobre uma fé sem inteligência.
Eu creio que o que foi descoberto até hoje, nem chega perto do que se tem a descobrir e que Deus tem todo o interesse nas descobertas científicas, creio tb que não chegaremos a descobrir tudo; sei que a ciência faz coisas extraordinárias, creio ainda, que quando Deus quer não espera pela ciência, nem mesmo nas coisas simples; não precisa ser inexplicável para ser sobrenatural; E como falou Bruno: como saber que vc se deparou com um evento sobrenatural? É que a fé se encontra no cerne da experiência pessoal. Eu tenho exemplos pessoais, depois lhe refresco a memória.

Unknown disse...

EU QUERIA SABER,POR QUE O FENÔMENO CONTRIBUI PARA A CIÊNCIA MAS NÃO É CIÊNCIA?